Making Africa – A Continent of Contemporary Design

Amelie Klein e Mateo Kries (org.)
Vitra Design Museum, 2015

Orlando Garcia

Sociólogo, investigador e “engenheiro social”. Trabalha regularmente em planeamento social e na operacionalização de programas em rede e em parceria. Cofundador, Presidente da Mesa da AG e ativista do Chapitô. Docente do Ensino Superior nas áreas da Intervenção Social. 40 anos de experiência em Cooperação para o Desenvolvimento com 37
missões realizadas (em todos os países da CPLP). Diversos livros, artigos e relatórios editados.

Para apresentar este fascinante Catálogo (345 pags em tamanho A3), há que começar com um aviso prévio: esta obra não é fácil de encontrar na sua versão em papel. Foi uma sorte tê-lo encontrado, por mero acaso, na sua edição em espanhol, na livraria do Guggenheim Bilbao. Melhor sorte teria sido apanhar a exposição que lhe deu origem e que ainda se encontra no circuito das Exposições Temporárias no universo das Artes. Inaugurou em 2015, perto de Basileia, na sede do Vitra Design Museum, que a organizou e promoveu, esteve depois em Bilbao, em Barcelona e em Roterdão e encontra-se agora nos Estados Unidos. Por enquanto, o catálogo-livro anda no curto circuito – para lhe ter acesso é necessário andar “à caça”. É possível aceder a parte substancial dos conteúdos em: “makingafrica.net/exibition/” e noutras entradas imediatamente detetáveis.

Como não podia deixar de ser num catálogo expositivo, trata-se principalmente de um mostruário de obras de cerca de 120 artistas e designers, selecionadas pelos curadores Amelie Klein e Okwui Enwezor (que também foi diretor da Bienal de Veneza no ano de 2015). O catálogo está organizado em 4 grandes secções: “Prólogo” / “I and We” / “Space and Object” / “Origin and Future”. Antes disso, ao longo das primeiras 80 páginas, contém um conjunto de 5 ensaios e 3 entrevistas. Nos interstícios das secções tem sínteses com fragmentos extraídos de laboratórios de ideias e entrevistas. O objeto (livro) é especialmente prazenteiro: no grafismo, no peso flexível, no estilo draft, na qualidade das reproduções, no manuseamento e no gozo visual.

Nesta obra, nesta exposição, o Desenho / o Design, é entendido como designação de um campo pluri e multiidisciplinar, que vai das artes plásticas e artes gráficas, à BD, à fotografia, à moda, ao cinema, à música, à performance, ao desenho digital e desenho industrial … Um campo aberto e exploratório. Nos principais temas focalizados nos ensaios e entrevistas estão questões como: a reinvenção do vocabulário, as mil maneiras de desenhar o social, o informal como ponto de partida, a confeção do futuro. Nos interstícios reflexivos das secções, como produto dos laboratórios de ideias, temos pistas para uma série de desafios aos discernimentos epistemológicos: quais os significados de “Making”?; Por que é que é difícil falar de Identidade em África?; Equacionemos a Cidade; O que é que significa trabalhar no âmbito criativo em África?; A África inspira? E como?; O que é que está a mudar em África? O que é que a África necessita para o futuro? Já será discernível que nesta obra (nesta exposição / neste projeto) tão relevante como a ideia de Desenho (casa comum dos criativos) é a ideia de Continente (como denominador comum para uma identidade continental meta-cultural). É a África transversal que está aqui em jogo e em evidência, através de uma polifonia de expressões do seu Desenho Crítico.

No n.º 1 da Mundo Critico, este mesmo Escaparate inicia-se com a recensão de uma obra organizada por Alain Mabanckou – Penser et écrire l’Afrique aujoud’hui, em que se apela à emergência de um saber transdisciplinar sobre o continente africano, que permita superar os efeitos perversos dos colonialismos e pós-colonialismos e que alcance as dinâmicas endógenas do continente africano como projeto de construção. O Making Africa (a exposição circulante, os catálogos e os links) é a demonstração de que esse movimento está em pleno curso. Ao percorrermos o catálogo-livro, quer nas imagens, quer nas ideias e linguagens, estamos confrontados com novos e singulares horizontes para um cosmopolitismo africano, bem como com novas configurações e confluências na atual construção artístico-criativa da Continentalidade. Estamos perante uma amostra dos enunciadores contemporâneos dos referenciais simbólicos da África gerúndia (making…). Com artistas e criadores como protagonistas, esta obra atira-nos para a estratosfera da Cosmogenia Africana. As visões e posicionamentos políticos, ou estão incorporados nas obras ou estão em sub-texto. Estão a inventar uma fórmula de “política difusa”?

Será que este séc. XXI africano está a ser intrinsecamente moldado pelos seus artistas e criadores? Até essas fronteiras da arte e da “criação” e dos criadores ou “desenhadores” se encontram em re-congeminação. O Making Africa é mesmo um catálogo de desenho mental, “naturalmente” prospetivo.