A ditadura adaptada ao século XXI é um livro escrito por Sergei Guriev e Daniel Treisman que explora como os regimes autoritários se adaptaram e evoluíram para se manterem no poder na era moderna. A partir da ação percursora Lee Kuan Yew em Singapura entre 1959 e 1990, os autores analisam as estratégias utilizadas por esses regimes para se manterem no controle, adaptando-se a um mundo cada vez mais interligado por via de um acesso enorme, instantâneo e de baixo custo à informação e a uma subida maciça do nível de instrução da população. Realçam que apenas a Coreia do Norte e a Eritreia ainda mantêm uma linha isolacionista. Os restantes regimes autoritários, ditaduras ou não, utilizam tecnologia, propaganda, controle de jornais e televisão ao abrigo de legislação aprovada e outras táticas para reprimir a oposição e manter o poder. Mas todos realizam eleições mais ou menos manipuladas.
Também se encontram exemplos de contradições do mesmo poder (Putin e Chavez, por exemplo) que variam as políticas de controle entre mais e menos repressivas conforme a situação política e económica em que se encontram. Ou mantêm para o país um discurso anti-Ocidente, mas continuam a negociar externamente acesso a mercados e ajuda internacional. Isto porque as relações com o exterior podem assumir vertentes que nunca surgem nos espaços nacionais, se tal for conveniente para a imagem externa do regime ou do ditador.
O livro salienta que esta é uma tática perigosa para ditadores. Isto porque as eleições podem não correr de feição (refere o caso da Turquia de Erdogan). Ou porque querer apoio de outros países que não têm regimes desse tipo leva inevitavelmente a uma exposição para a sua própria população que lhe pode ser fatal (refere Viktor Orbán da Hungria e os irmãos gémeos Lech e Jarosław Kaczyński da Polónia no contexto da União Europeia).
O livro tem muitos exemplos além de Singapura. Se olharmos apenas para os países africanos pode referir-se o Uganda e o Zimbabwe, com censura digital e limitação do acesso à internet, e dificuldades para a oposição verificar a honestidade das eleições como em Angola. Refere também a repressão a jornalistas na Tanzânia e, (podemos acrescentar) também podia ter referido esse aspecto na Guiné-Bissau de Umaru Sissoko Embaló. O Ruanda de Paul Kagame é citado como um exemplo de um ditador moderno que utiliza métodos sofisticados de controle, incluindo a manipulação dos meios de comunicação sociais, a censura, e a repressão subtil para manter o seu poder. Para os países com petróleo ou o gás natural ou os diamantes/ouro/ urânio, a corrupção é uma ferramenta comum utilizada por muitos regimes para manter a elite leal e dependente do governo. A Nigéria, por exemplo, tem lutado contra a corrupção endémica que permeia todos os níveis do governo sempre com um sucesso muito relativo.
Tem uma extensa bibliografia (págs.297 a 348 na edição portuguesa), pois os autores fazem questão de explicar muito bem a metodologia que seguiram.
O livro oferece uma visão perspicaz, fundamentada e detalhada sobre o funcionamento interno dos regimes autoritários contemporâneos, tenham a designação de ditaduras ou não, e como eles se adaptaram às mudanças do século XXI. É uma leitura essencial para aqueles interessados em política, direitos humanos e governança global.