Geração 80 – o desejo de contar histórias angolanas

Ana Filipa Oliveira

Trabalha na ACEP desde 2009, onde desenvolve projectos na área da comunicação, advocacia e direitos humanos. É responsável pela elaboração dos recentes relatórios AidWatch, em Portugal. Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa, é licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra.

“A Geração 80 é a possibilidade de dar um outro olhar do nosso país ao mundo”, resume Tchiloia Lara, que faz parte da equipa fundadora da produtora audiovisual angolana. Criada em 2010, por Tchiloia, juntamente com Fradique e Jorge Cohen, a Geração 80 nasce do desejo de contar a nossas histórias angolanas na primeira pessoas. Desde então, especializou-se na criação de produtos e na prestação de serviços de referência na área de entretenimento e dos media, com o compromisso e missão de “inspirar a nova geração contribuindo para o desenvolvimento cultural, económico e artístico para e com os angolanos”.

Hoje a Geração 80 é já um colectivo, que liga e emprega centenas de pessoas (todas angolanas) nas mais diversas áreas do audiovisual no país. “Inspiramo-nos no cinema do nosso continente e queremos colocar Angola nomapa do cinema africano e mundial”, sublinham os protagonistas. Da realização à produção, passando pela direcção de fotografia, edição e aluguer de equipamentos, a Geração 80 é hoje uma máquina bem oleada no sector audiovisual em Angola.

Com uma oferta adaptada às necessidades de cada cliente, a produtora faz cinema, publicidade e apoia também a comunicação de empresas no panorama angolano. 2022 tem sido um ano particularmente bom, ao serem galardoados com o prémio Produtora do Ano, no FestiPub – Festival de Publicidade. Mas não se ficaram por aqui e ganharam também em 2022 a maior distinção cultural de Angola – o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria Cinema e Audiovisual, pelos “conteúdos de qualidade”, no que diz respeito ao cinema de autor.

 

 

Em 1999, nos primórdios, a Geração 80 produziu a primeira curta-metragem Alabamento, que assinalou o começo da carreia de Fradique como realizador, na capital angolana, e que conta a história de um homem que tem o “simples” sonho de ficar com a pessoa que ama, na “complicada e mundana cidade de Luanda”. Desde então, a produtora já assinou mais de uma dezena de filmes, entre curtas (1999, Lúcia No Céu Com Semáforos, Não Olhes, Senão Vês e Os Ouvidos que Ouvem) e longas-metragens (Ar Condicionado, Para Lá dos Meus Passos, El Ùltimo País, Do Outro Lado do Mundo e Independência), que culminam com o lançamento em 2022 da longa metragem Nossa Senhora da Loja do Chinês, que teve a estreia mundial em Agosto no Locarno Film Festival e em Novembro venceu o prémio do Júri de Melhor Longa Metragem no Festival du Film d’Amiens.

O filme é um drama dirigido por Ery Claver, que personifica o poder, a família e a vingança, também tendo como cenário a cidade de Luanda.

Na publicidade, conta com uma equipa de criativos e técnicos especializados na produção de filmes publicitários que oferecem soluções criativas e no sector corporativo desenvolvem projectos “fora da caixa” que ajudam as instituições e empresas a comunicar as suas marcas com diferentes públicos. O Cassete é o mais recente investimento da produtora, um estúdio de som que oferece todo tipo de conteúdo em formato de som (desde a criação, produção e gravação de música, aos jingles, vinhetas, spots publicitários, audiolivros, entre outras possibilidades).

 

 

Cine Geração – discutir cinema no quintal

A paragem forçada de pandemia não paralisou a Geração 80. Desse momento, nasceu o Cine Geração no quintal da produtora, para discutir o Cinema Angolano e Africano. Com mais de 100 filmes exibidos, o que deveria ser o apanágio de um cine clube nacional – passar um filme Africano num país Africano – infelizmente é muito raro. O Cine Geração tem assim ocupado um lugar cimeiro no encontro de cineastas, estudantes, cinéfilos e na promoção de tertúlias à volta do cinema.

Todas as quintas-feiras às 18h30, juntam-se à luz da lua, para ver um filme africano, com uma curadoria cuidada. Revisitam os clássicos, mas também passam as estreias nacionais e “mergulham” no melhor que a sétima arte produzida no continente tem para oferecer.

De Angola para o continente africano e de Angola para o mundo, a equipa da Geração 80 procurará continuar a sua missão de se dedicar à pesquisa, ao resgate de histórias de e sobre angolanos e angolanas e a dar vitalidade ao cinema iniciado na geração anterior.