O Desenvolvimento nos Media – Percepções e Visões de Jornalistas e Profissionais da área do Desenvolvimento

Ana Filipa Oliveira, Raquel Faria - ACEP, 2016

Sónia Lamy

É doutorada em Ciências da Comunicação pela FCSH / Universidade Nova de Lisboa.
Actualmente é directora do Mestrado de Media e Sociedade, do IPPortalegre. Tem lecionado
unidades curriculares na área do jornalismo e discurso dos media no primeiro e segundo ciclo de estudos. Tem estudado sobretudo o discurso jornalístico, as fontes de informação e as dinâmicas das ONG nos media.

Raquel Faria

O livro “O Desenvolvimento nos Media – Percepções e Visões de Jornalistas e Profissionais da área do Desenvolvimento” foi lançado em 2016, mas mantém-se atual e promove uma completa perceção sobre o setor do desenvolvimento. Através de uma proposta da Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP) chegamos a um trabalho que nos dá um retrato da comunicação do setor das organizações de desenvolvimento e uma perspetiva sobre o modo como os jornalistas as entendem. Além disto, aponta caminhos, soluções e idealiza propostas para uma presença de temáticas relativas ao desenvolvimento que, por vezes, fogem dos media, por estarem fora de uma agenda prevista e organizada por setores económicos fortes. Os grupos mais poderosos, como governos e grandes empresas estão em vantagem, já que têm uma máquina vigorosa que acaba por estimular ainda mais um contacto permanente entre estes e os media (Cerqueira&Lamy, 2019).

Ana Filipa Oliveira que trabalha no ACEP desde 2009, e Raquel Faria, doutorada em Altos Estudos em História, têm desenvolvido trabalho na área das ONGD, cooperação e desenvolvimento. Como referem na introdução é “indiscutível a sua influência nas opiniões e atitudes de uma sociedade e do seu poder na construção da imagem dos Outros e daquilo que não lhe é imediatamente próximo.” Já em 1996, Rifkin se referia às Organizações como determinantes no contexto da preservação das tradições, e sobre a capacidade para estimular o desenvolvimento de experiências intelectuais onde se aprendem muitas vezes a “praticar a arte da participação democrática” (Rifkin, 1996: 83). Mediante a perceção de que em Portugal, os temas relacionados com o desenvolvimento e cooperação são praticamente ignorados no contexto da cobertura mediática, coloca-se de lado este potencial espaço de debate democrático.

Ao longo dos cinco capítulos do livro há uma proposta à reflexão sobre o modo como se articulam as relações entre os media e os jornalistas. Partindo de uma breve revisão bibliográfica, acerca do jornalismo contemporâneo, a obra propõe a observação do ambiente mediático, a partir de um conjunto de 26 entrevistas que nos dão uma perspetiva muito pragmática assente naquela que é a experiência dos dois setores – jornalistas e profissionais das organizações que trabalham a área do desenvolvimento.

É relevante apontar a utilidade deste livro para o setor das ONG, mas também dos jornalistas, como ponto de partida para uma reflexão mais profunda de como estes se posicionam face ao outro identificado tantas vezes neste contexto. É determinante pensar o jornalismo como mais proactivo no contexto social, já que este contribui para a construção, mesmo que parcial, do espaço público. Na parte 5, encontramos assim uma narrativa que aponta para caminhos e estratégias onde podermos observar sugestões direcionadas tanto para a área da comunicação do desenvolvimento, como para o jornalismo. Desenvolvimento de ações de formação, envolvimento dos jornalistas no trabalho das organizações, promoção do acompanhamento do trabalho das entidades, mesmo no terreno, promoção de um contacto ágil e direto com a instituições, desenvolver as capacidades de comunicação, são algumas das propostas que aqui parecem poder ser um ponto de partida para uma participação mais eficaz no espaço público. Prémios, bolsas e reportagens promovidas pelas organizações podem de facto dar resposta a uma necessidade de estímulo que nos parece aparecer, hoje, no contexto jornalístico. Mas, é também de salientar a proposta sobre a elaboração de um código ético e profissional em que ambos os setores –organizações e jornalistas – se encontrassem num contexto pedagógico, e de promoção de um debate mais plural, num contexto de um espaço público democratizado.

E, se as autoras concluem que os temas do desenvolvimento não são notícia em Portugal, resta identificar as recomendações finais deixadas aos setores. Este legado deve chegar aos profissionais do setor das organizações e aos jornalistas, podendo assim, contribuir para uma transformação sobre a visibilidade de temas sociais fraturantes no contexto mediático, encarando o jornalista como “agente do Desenvolvimento”.

 

Referências

Cerqueira, C., & Lamy, S. (2019). Estrategias, dinámicas y desafíos de la comunicación en las organizaciones del tercer sector portugués. In Comunicación para el cambio social: propuestas para la acción. Valencia: Tirant Humanidades.

Famé, A., & Iranzo, A. (2019). Comunicación para el cambio social: propuestas para la acción. Valencia: Tirant Humanidades.

​Rifkin, J. (1995). The end of work: the decline of the global labor force and the dawn of the post-market era. New York: Putnam.