Reframed stories: porque reenquadrar as histórias é importante – e urgente

Eddie Avila

É director da Rising Voices, uma iniciativa de inclusão digital da Global Voices, que apoia redes comunitárias sub-representadas que pretendem utilizar a Internet e os media digitais para melhorar a sua representação e participação online e as suas formas de expressão como contadores das suas próprias histórias, com especial enfoque nas comunidades indígenas e de línguas minoritárias.

Desde 2007, a Rising Voices (RV), uma iniciativa de inclusão digital da organização Global Voices, tem apoiado comunidades historicamente sub-representadas que pretendem utilizar o potencial da Internet e dos media digitais para partilhar as suas histórias nos seus próprios termos. Através da formação, mentoria e do apoio na construção de uma rede de trabalho entre comunidades com visões semelhantes, a RV já apoiou mais de 75 comunidades em todo o mundo.

Nos últimos anos, a RV também começou a desenvolver actividades de literacia de imprensa, como forma das comunidades se tornarem mais críticas e reflexivas sobre a informação que consomem, criam e partilham. Uma melhor compreensão de como estas comunidades ou as suas preocupações são representadas nos media, incluindo os media tradicionais, independentes e sociais, pode ser um ponto de partida para influenciar as narrativas existentes.

Se questionarmos qualquer comunidade, certamente que terão as suas próprias perspectivas de como são representadas ou como os problemas com os quais se preocupam são enquadrados em todos os tipos de imprensa. A observação e os testemunhos superficiais são válidos, mas podem não contar a história toda.

Acrescentar dados à equação permite-nos olhar para um quadro mais completo sobre a questão da representação, se o foco está na sub-representação ou na representação incorreta. Isso é especialmente importante porque o grau em que as comunidades e as questões que lhes interessam são representadas na imprensa pode determinar se fazem ou não parte da agenda pública.

O projeto Reframed Stories da RV procura capacitar as comunidades para que desempenhem um papel mais activo e central na análise da sua própria representação e das questões que lhes interessam nos media num enquadramento local, nacional ou internacional.

As nuvens de palavras geradas através de plataformas como a Media Cloud constituem um recurso de análise que permite observar um conjunto de fontes de imprensa, num período específico de tempo. Os utilizadores podem seleccionar combinações de fontes, com base na geografia e no tipo de media. Os resultados fornecem a indicação de termos relacionados que são usados com maior frequência no conjunto de dados de imprensa obtidos. Os termos que são usados com maior frequência aparecem em tamanho maior. No entanto, talvez tão importante como os termos que aparecem na nuvens de palavras são as palavras que não aparecem na nuvens de palavras. Quem melhor conhece estas comunidades e as questões que os afectam é mais rápido a identificar o que os resultados significam e a tirar as primeiras conclusões. O projecto abstém-se de fazer juízos sobre os dados e, em vez disso, procura constituir um ponto de partida para a discussão sobre como podem ajudar as comunidades a moldar sua própria representação nos media, através do digital.

Durante a fase inicial dos projectos, junto com parceiros locais, a RV envolveu-se com comunidades no México, Bolívia, Chile, Colômbia e Equador, incluindo activistas ambientais no Equador, ansiosos para ver como as indústrias extrativas, que têm afectado as paisagens ambientais do país, estavam a ser representadas nos media locais. Também os estudantes universitários mapuches no Chile estavam curiosos para saber como é que a sua comunidade indígena estava a ser descrita na imprensa nacional e regional. Feministas na Bolívia, que trabalham para conter as altas taxas de feminicídios no país, procuraram sustentar as suas opiniões de que alguns meios de comunicação pareciam concentrar-se mais no autor do crime do que na vítima.

Dunen Kaneybia Muelas, uma jovem líder arhuaco e secretária técnica da Comissão Nacional para Mulheres Indígenas da Colômbia estudou o termo “indígena” numa recolha de dados de imprensa colombiana durante um dos workshops realizados em Bogotá.

Marbel Ina Vanegas Jusayu mostra a nuvem de palavras do termo “mujeres indígenas” no workshop de histórias reformuladas em Bogotá, Colômbia. Captura de imagem do vídeo do YouUube produzido por El Churo.

 

Muelas respondeu às descobertas dizendo: “Não concordo com as palavras que aparecem aqui sobre comunidades e povos indígenas, porque sinto que têm uma abordagem económica ao incluírem palavras como ‘projectos’, ‘áreas’ e ‘ambientais’. Acho que as comunidades e povos indígenas são mais do que isso. Esta nuvem de palavras praticamente diz menos de 1% sobre a minha comunidade. Sinto que os povos indígenas não deveriam ser vistos apenas em termos de desenvolvimento. Não podemos ser vistos exclusivamente como projectos. Acredito que a não compreensão das diversas iniciativas levadas a cabo pelos povos indígenas pode ter efeitos nocivos para a nossa permanência nos territórios.”

O projecto Reframed Stories permitiu que cada uma destas comunidades tivesse uma melhor percepção de como as questões que lhes interessam são enquadradas nos meios de comunicação, e, por sua vez, fornecer um ponto de partida para trabalhar no sentido de contrabalançar as narrativas existentes ou introduzir alternativas para o discurso público. Com este conhecimento maior sobre os media, os cidadãos estão mais aptos a procurar respostas às suas curiosidades sobre o mundo à sua volta. Além disso, este sentimento aumentado de agentes pode encorajar o seu envolvimento contínuo no debate cívico tão necessário para influenciar a mudança.

À medida que cada vez mais pessoas conseguem contar as suas próprias histórias em várias plataformas e meios de comunicação, é especialmente importante compreender o estado actual das discussões públicas. Encontrar o lugar de alguém na abundância de informação disponível actualmente pode capacitar os cidadãos a ajudar a contrabalançar narrativas que podem deturpar ou deixar de fora perspectivas importantes, especialmente entre comunidades marginalizadas ou historicamente excluídas.