O mundo está a tornar-se cada vez mais digital e as plataformas são o modelo de negócio central da economia digital. Elas substituem a “mão invisível” (Adam Smith) como o princípio organizacional do mercado. Com a drástica redução dos custos de transacção e a enorme popularidade resultante entre os consumidores, os ganhos de bem-estar na economia da plataforma passam dos produtores para os consumidores e para o operador da plataforma.
A economia digital emergente está a desafiar os sistemas de produção existentes em muitas indústrias e a mudar a forma como vivemos, trabalhamos, consumimos e produzimos bens e serviços. Mas ao mesmo tempo a economia digital desenvolveu se de maneira muito desigual a nível global, regional e nacional. A figura abaixo sobre a sede das 60 maiores plataformas globais dá-nos uma ideia do grande desequilíbrio desta economia de plataforma a favor dos EUA e da Ásia. [1]
A prosperidade está a deslocar-se cada vez mais e rapidamente dos países em atraso digitalmente (Europa, África, América do Sul, Austrália) para os EUA e a Ásia. Resulta daí uma maior dependência da economia global em relação a duas potências económicas com um sistema de valores próprios. Esta situação de desenvolvimento desigual da economia não é sustentável.
A inexpressiva posição da África nesta classificação é um dos maiores desafios que a nova geração de africanos tem de enfrentar para romper com o novo colonialismo das plataformas dominantes.
O que falta em África é a necessidade de construir um ecossistema de inovação robusto, incluindo os mecanismos para financiar inovações e empresas, escalar e levar as inovações ao mercado, bem como promover a capacitação e colaboração entre os actores. Os inovadores africanos continuam a ter falta de apoio sistémico e são confrontados com um ambiente que é constrangedor.
O acesso limitado ao conhecimento é um desafio que África deve procurar formas de ultrapassar. Há também a necessidade de se manter a par dos desenvolvimentos das tecnologias e a facilitar a aquisição contínua de competências e de talentos.
A Cimeira Africana de Inovação (AIS, na sigla em inglês), uma iniciativa da empresa cabo-verdiana IHABA, foi lançada com base de que a inovação deve estar no centro da agenda da África se o continente pretender assegurar o desenvolvimento e a transformação estrutural.
Desde o seu lançamento em 2012 em Cabo Verde, a AIS emergiu como uma importante plataforma de inovação em África, com a visão de facilitar o desenvolvimento e a transformação estrutural. A Cimeira da AIS em 2018 realizou-se simultaneamente em Kigali, Ruanda, e em dois locais satélite – Pretória, na África do Sul, e Adis Abeba, na Etiópia. A AIS 2018 concentrou-se em traçar perfis e apoiar soluções que são exemplos de como África está a enfrentar os desafios com um pensamento novo e inovador.
A AIS está a ligar África, ajudando a ultrapassar fronteiras e trabalhando com empresários inovadores para aceder a mercados. Isto é fundamental para cumprir a promessa do Acordo Comercial de África (ZLECAf), assinado em 2018. A AIS está também a facilitar a aprendizagem através da investigação para descobrir lições sobre o que funciona, o que não funciona, bem como facilitar a partilha de experiências. A este respeito, a AIS construiu uma rede de investigadores e profissionais em todo o continente e na diáspora e tem hoje mais de 600 empresários/inovadores na sua rede de startups em vários sectores.
Um objectivo-chave da AIS é construir um ambiente propício para as nações africanas aprenderem. O plano é pôr em prática oportunidades de aprendizagem formais e informais. A este respeito, a AIS conceberá e implementará programas de aprendizagem que são específicos e de curto prazo. Para este efeito, a AIS está a desenvolver uma plataforma digital que permitirá às startups e PMEs de serem acompanhadas por pessoas com experiência ou por grandes empresas capazes de oferecer apoio consultivo e servir como mentores.
A ideia é da AIS se transformar numa plataforma que reúne todos os interessados, desde chefes de Estado, decisores políticos, investidores, activistas, empresários, académicos, investigadores até inovadores, para partilhar ideias e aprender, bem como facilitar a colaboração necessária e acções colectivas para promover e de levar as inovações ao mercado em África.
A economia digital emergente oferece oportunidades únicas a África para superar os constrangimentos que impedem a transformação, colocando a inovação no centro do desenvolvimento e garantindo uma nova economia que beneficie todos e com menos desigualdade.
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[1] Kurt Brand Expert pour IT Governance, Compliance, Security