Bom Dia, São Tomé: Pintura publicitária são-tomense – análise de discurso visual

Piotr Stańczyk e Anita Wasik
2017
315 páginas

Katya Aragão

Jornalista, cineasta, guionista e produtora são-tomense. Formada em Ciências da Comunicação e da Cultura - Comunicação e Jornalismo pela ULHT (Portugal). Foi fundadora do TEDxSãoTomé (2013 / 2018). Em 2017, realiza a curta-metragem Mina Kiá e, desde então, não parou. Fundou e coordena o programa São Tomé Film Lab. Em 2022, foi uma das 20 cineastas selecionadas para a Competição Netflix & UNESCO's African Folktales, Reimagined.

Bom Dia, São Tomé revela-se uma obra fascinante e meticulosa, fruto da dedicação dos investigadores Piotr Stańczyk e Anita Wasik durante a sua sabática. Este projecto indutivo surgiu espontaneamente, guiando-se pela necessidade de explorar a pintura publicitária são-tomense, um fenómeno cultural que até então permanecia submerso nas sombras da ilha.

Eu não fazia ideia da existência desta belíssima obra, que em boa hora me foi apresentada pela querida Ana Filipa Oliveira, que me lançou o desafio de escrever uma recensão sobre Bom Dia, São Tomé.

O primeiro capítulo, intitulado “Formação da pintura publicitária são-tomense como um objecto”, serve como alicerces teóricos e práticos para a compreensão deste fenómeno peculiar. Aqui, os investigadores delineiam as bases necessárias para a análise da pintura publicitária em São Tomé e Príncipe. Já no segundo capítulo, “Pintura publicitária são-tomense, análise de discurso”, as conclusões do estudo emergem, trazendo à luz a riqueza simbólica e discursiva desta forma de expressão artística.

A escolha de adoptar uma abordagem interdisciplinar revela-se acertada, diante da complexidade da cultura são-tomense, e os autores, ao destacarem a pintura publicitária de rua, adoptam uma postura radical. O objectivo inicial, de criticar o capitalismo e a publicidade, adiciona uma camada de profundidade à obra, proporcionando uma análise crítica do sistema publicitário são-tomense.

A crítica negativa ao sistema publicitário local, embora contundente, é apresentada com a devida ponderação, reconhecendo a multiplicidade de perspectivas e interpretações possíveis. A obra sublinha a importância da visualidade nas artes visuais, delineando como ela não apenas regula a vida do grupo, mas também desafia as normas sociais e negocia significados.

A contextualização da pintura publicitária são-tomense em relação à África ocidental revela características distintivas, como a hibridez cultural, a função popular, e o carácter comercial. O estudo comparativo entre a pintura publicitária são-tomense e a africana ocidental fornece uma perspetiva abrangente sobre as influências históricas e sociais que moldam essa forma de expressão artística.

A colecta extensiva de material visual, apoiada por entrevistas detalhadas, confere robustez ao estudo. A análise quantitativa revela a prevalência da pintura publicitária em locais como bares, salões de beleza e lojas, destacando a sua presença nas actividades quotidianas dos são-tomenses.

A obra encerra com uma exploração das técnicas utilizadas, como pintura, stencil e desenho, além de categorizar os trabalhos em estilos figurativos, surrealistas e outros escapes classificatórios. A representação de homens e mulheres na pintura publicitária são-tomense, com foco nas actividades diárias e no tempo livre, adiciona uma dimensão sociológica ao estudo.

Bom Dia, São Tomé é um contributo valioso para a compreensão da pintura publicitária são-tomense, enriquecendo o campo dos estudos culturais com sua abordagem interdisciplinar e crítica perspicaz. Ao desvendar as camadas de significado por trás dessas expressões visuais, os autores oferecem um olhar perspicaz sobre a cultura única e vibrante de São Tomé e Príncipe.