Frammenti / Fragmentos

Mario Badagliacca

É um fotógrafo siciliano freelancer. Estudou Política e Relações Internacionais na Universidade Oriental de Nápoles e foto-reportagem e fotojornalismo em Roma. A par da sua actividade como fotógrafo, colabora com diversas ONG. O seu trabalho documenta as migrações, o quotidiano nas fronteiras, a violação dos Direitos Humanos e outros temas sociais.

Lampedusa oferece-nos um observatório privilegiado da odisseia contemporânea da migração transnacional. Há mais de uma década, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças que chegam a esta pequena ilha no Mediterrâneo – mais perto de África do que de Itália – têm sido privados dos seus pertences e levados para os chamados “centros de identificação e expulsão”. Este acto de desapropriação, simultaneamente real e simbólica, tem privado os migrantes da sua identidade, tornando-os meros números.

Além de perderem os seus pertences – destinados a serem destruídos, – os migrantes são privados dos seus direitos básicos. No final da sua longa viagem, têm de enfrentar a discriminação e as leis e regulações ilusórias da “Europa Fortaleza”, mesmo quando buscam asilo político.

A oportunidade para este trabalho surgiu da ideia de iniciar um projecto que recuperasse os objectos, iniciado por diferentes associações e a Biblioteca Regional de Palermo. Deparei-me, num sótão escuro em Lampedusa, perante dezenas de caixas cheias de objectos deixados para trás por migrantes: sapatos usados, roupas, pacotes de cigarros, cruzes, bússolas, exemplares da Bíblia e do Corão, diários e cartas pessoais. Despejados originalmente na lixeira da ilha, e depois recuperados e armazenados por um grupo de voluntários locais, membros da associação Askavusa, estes fragmentos das vidas dos migrantes ajudam a traçar as diferentes subjectividades, medos, desejos, juntamente com a necessidade comum de sobrevivência.

2003