A mão grande
Existem lugares em que o olhar nos remete constantemente para o passado. São lugares de história. A velha Bissau é assim. Um mistério. As casas, as ruas, o porto, as pessoas. Tudo é agitado, tudo é presente e tudo é passado. Para um fotógrafo é um lugar magnífico. A Fotografia gosta dos pigmentos, das rugas, dos cheiros, da franqueza. Ali temos tudo isso. Em cada esquina. Em cada barbearia. Em cada café. Em cada passeio.
O povo alimenta os quarteirões com os negócios, com as amizades, com as vaidades, com as irreverências, numa agitação por vezes perturbante. Sou branco. De máquina fotográfica ao peito. Olhado de lado por vezes. Olhado como amigo tantas outras. E depois, vem o sorriso comprometedor. O primeiro abraço que é o último. E depois ouço as histórias de vida. Comovo-me. E o branco que sou eu, ensinado desde a nascença, que os povos têm direito à sua independência, fico grato pela mão grande que aperta a minha mão pequena. Como irmãos.