Viver entre o que é deixado para trás

Mário Cruz

É um fotógrafo independente que se dedica a temas relacionados com injustiça social e direitos humanos, e fundador da Narrativa, um espaço em Lisboa que tem como missão a partilha e valorização da fotografia como forma de expressão e comunicação. É autor de dois livros: Talibes, Modern Day Slaves e Living Among What’s Left Behind.

O coração de uma cidade tornou-se a sua vergonha.

O rio Pasig, outrora o centro económico de Manila, é agora o reflexo de uma sociedade extremamente desigual, na qual 21,6% da população vive abaixo do limiar de pobreza, numa luta diária contra a poluição.

Desesperados por trabalho, muitos filipinos viram em Manila a solução. Traídos pelos seus sonhos, muitos acabaram a viver em construções ilegais junto ao rio. O lixo doméstico e os constantes despejos industriais transformaram o rio Pasig num esgoto.

Negligenciado durante demasiado tempo, o rio Pasig foi considerado biologicamente morto na década de 1990.

Hoje, construções frágeis feitas para acolher vidas frágeis não são mais do que madeira cravada em águas extremamente poluídas.

É um exemplo do caminho perigoso que a humanidade percorre quando as necessidades básicas humanas e o meio ambiente são ignorados.